Em reunião realizada no dia 18 de Novembro de 2014, nós, editores de revistas brasileiras de Saúde Coletiva, decidimos criar o Fórum de Editores de Saúde Coletiva, ligado à Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), como modo de melhor articular nossa ação política e científica.
A reunião foi motivada pela perspectiva de importantes modificações no panorama da editoração científica nacional, sinalizada por dois importantes atores, a CAPES e a SciELO. Como Fórum, concordamos que nosso objetivo comum, e de toda a comunidade científica brasileira, em especial a da área de Saúde Coletiva, é o de aprimorar cada vez mais a qualidade e a visibilidade, nacional e internacional, de nossas revistas. Reconhecemos o papel desses interlocutores nesse sentido, especialmente da SciELO, que ocupa lugar central nesse processo.
Chamamos a atenção, contudo, para o fato de que é necessário uma reflexão densa sobre os conceitos-chave dessa discussão, como, por exemplo, “qualidade” e “internacionalização”. A qualidade de periódicos não deve ser avaliada exclusivamente ou mesmo principalmente por indicadores bibliométricos, crescentemente criticados (ADLER et al., 2008; CAGAN, 2013; CASADEVALL; FANG, 2014). Do mesmo modo, a internacionalização de periódicos brasileiros não pode ser entendida apenas como a publicação em inglês de artigos de autores residentes no exterior, nem pode, ou deve, ser exigida uniformemente de todos os periódicos da nossa área. Há também uma dimensão política e econômica nessa discussão que não pode ser ignorada (DE CAMARGO JR, 2014; CASADEVALL; FANG, 2014; VESSURI et al., 2013).
Para o desenvolvimento da ciência brasileira é necessária a existência de um ecossistema editorial amplo, isto é, um parque de publicações com abrangências temáticas e regionais variadas, e de qualidade; como um conjunto de editores de periódicos científicos europeus, signatários de documento que criticou proposta de classificação de revistas feita pela European Science Foundation, afirmou: “Nossas publicações são diversas, heterogêneas e distintas. Algumas são destinadas a um público amplo, geral e internacional, outras são mais especializadas em seus conteúdos e audiência implícita.
Seu alcance e leitores não dizem nada sobre a qualidade do seu conteúdo intelectual.” (ANDERSEN et al., 2008) Não há métricas de aplicação universal a todos os periódicos, nem mesmo os periódicos de uma mesma área, mais ainda uma área interdisciplinar como a Saúde Coletiva. Ciências aplicadas, mais próximas de demandas sociais, têm um perfil de leitores que se estende muito além da academia, por exemplo, e o público leitor também tem que ser considerado em qualquer discussão sobre o periodismo científico.As manifestações recentes da CAPES sobre o tema da internacionalização de periódicos brasileiros são vagas, não nos permitindo ter clareza sobre o que de fato se pretende fazer; tememos que propostas excessivamente restritivas e concentradoras possam vir a ser formuladas.
O portal SciELO foi criado a partir da ideia generosa de fortalecer as publicações nacionais e contribuir para o diálogo Sul-Sul e ao longo do tempo contribuiu e favoreceu a maior visibilidade dos periódicos nacionais. No entanto, o documento “Critérios, política e procedimentos para a admissão e a permanência de periódicos científicos na Coleção SciELO Brasil” não explicita a base de análise que levou ao estabelecimentos de tais critérios. Isso é ainda mais relevante quando se considera que alguns desses critérios interferem na autonomia editorial dos periódicos.
Compreendemos que há profundas modificações em curso no periodismo científico, em nível global, diante das quais precisamos nos posicionar. Precisamente por conta disso, pedimos que essa discussão seja empreendida da forma mais ampla possível, sem decisões a priori, e que inclua atores importantes no financiamento da própria pesquisa brasileira, como o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, o Ministério da Saúde (no caso dos periódicos da área de saúde) e as fundações estaduais de apoio à pesquisa. A divulgação científica é uma parte essencial do processo de produção da ciência, e é fundamental que os atores-chave na área de ciência, tecnologia e inovação em nosso país tenham uma política clara, efetiva e não restritiva, que vise ao fortalecimento e à melhoria da qualidade editorial do conjunto dos periódicos nacionais que dão visibilidade aos resultados de pesquisas produzidas com recursos públicos, propiciando informações para subsidiar a discussão e definição de políticas públicas setoriais fundamentais para o desenvolvimento do país.
Acesse aqui a versão em PDF da Carta de São Paulo
ASSINAM O DOCUMENTO OS EDITORES-CHEFE DOS SEGUINTES PERIÓDICOS:
Cadernos de Saúde Pública
Marilia Sá Carvalho
Claudia Travassos
Claudia Medina Coeli
Ciência & Saúde Coletiva
Maria Cecília de Souza Minayo
Romeu Gomes
Epidemiologia e Servicos de Saúde
Leila Posenato Garcia
Interface: Comunicação, Saúde, Educação
Antonio Pithon Cyrino
Lilia Blima Schraiber
Miriam Foresti
Revista Brasileira de Epidemiologia
Moisés Goldbaum
Marcia Furquim de Almeida
Revista Brasileira de Saúde Ocupacional
Eduardo Algranti
José Marçal Jackson Filho
Eduardo Garcia Garcia
Revista de Saúde Pública
Carlos Augusto Monteiro
Physis
Kenneth Camargo
Saúde e Sociedade
Helena Ribeiro
Cleide Lavieri Martins
Referências:
ADLER, R.; EWING, J.; TAYLOR, P. Citation Statistics: A Report from the International Mathematical Union (IMU) in Cooperation with the International Council of Industrial and Applied Mathematics (ICIAM) and the Institute of Mathematical Statistics (IMS) Joint Committee on Quantitative Assessment of Research. Berlin, Germany: International Mathematical Union (IMU), June 12. Joint Committee on Quantitative Assessment of Research. pp, 2008.
ANDERSEN, H.; ARIEW, R.; FEINGOLD, M.; et al. Editorial-Journals under Threat: A Joint Response from History of Science, Technology and Medicine Editors. CSIRO PUBLISHING 150 OXFORD ST, PO BOX 1139, COLLINGWOOD, VICTORIA 3066, AUSTRALIA, 2008.
CAGAN, R. San Francisco Declaration on Research Assessment. Disease models & mechanisms, p. dmm. 012955, 2013.
DE CAMARGO JR, K. R. Big Publishing and the Economics of Competition. American journal of public health, v. 104, n. 1, p. 8–10, 2014.
CASADEVALL, A.; FANG, F. C. Causes for the Persistence of Impact Factor Mania. mBio, v. 5, n. 2,p. e00064–14, 2014.
VESSURI, H.; GUÉDON, J.-C.; CETTO, A. M. Excellence or quality? Impact of the current competition regime on science and scientific publishing in Latin America and its implications for development. Current Sociology, p. 0011392113512839, 2013.
Apesar da Ciência não ser capaz de estabelecer verdades absolutas, muitas vezes, à luz de cientistas que sofrem da “síndrome de deus” e que entendem mais de politicagem que de ciência, a Ciência produz verdades (pseudo)absolutas. O critério deveria levar em conta a qualidade metodológica da informação. Eu repúdio as atuais métricas da CAPES que impactou negativamente nas publicações brasileiras e, caso a SciELO adote as medidas descritas nesta carta, eu repúdio e lamento pela ciência do Brasil
A discussão é relevante e agradeço aos editores pelo seu esforço de disseminação.
Por um lado, é importante qualificar a produção científica brasileira em saúde coletiva considerado seus distintos modus de produção.
Por outro, trabalhamos, basicamente todos, com dinheiro público e é importante estabelecer mecanismos claros de accountability não apenas com a comunidade científica, mas sobretudo com a sociedade em geral, que nos financia. Como muito bem referenciado no documento, o esforço pelo estabelecimento de métricas é internacional (publish or perish), o que também nos impele a participar da discussão.
Também acho que não há métrica perfeita para a produção científica, sobretudo que permita contemplar a questão da qualidade. Mas acho que, infelizmente, alguma há que ser aplicada. Cabe então definir a mais justa e equilibrada.
Seria bom se pudessem divulgar, junto a este mesmo documento, os links para os encaminhamentos da CAPES e SCIELO referidos.
Excelente iniciativa! Parabéns à ABRASCO e aos criadores do Fórum. Abs, Paulo Capel Narvai.
Muito bem vinda a manifestação do Fórum.
Não entendo os princípios como generosidade mas como resposta política à submissão de conteúdo e prioridade a leitores “de mercado”.
A Saúde Coletiva não é movimento que possa depender da publicação internacionalizada por que é centrífuga. Generalizou-se do Brasil para as relações Sul-Sul e antagoniza a subordinação às diretrizes dos países que eliminaram os subsídios à literatura científica e aboliram o Wellfare State.
Chega de fazer a cama para o inimigo dormir nela e depois jogar para fora os que fizemos o leito. Não adianta fazer beicinho depois.
Heleno (25 nov 2014)
1.Como editor autoral devo felicitar os editores que assinam a “Carta de São Paulo – Fórum de Editores de Saúde Coletiva” – porque explicitam importantes atores na contramão da divulgação científica.
Fica claro que esses profissionais monitoram o interesse maior da ABRASCO nesse processo. Assim, puderam observar mudanças em andamento que aumentariam as restrições já existentes. E, previamente, se posicionam adequadamente para reverter as modificações em questão e avançar para que o processo de divulgação incorpore novas métricas.
2.A Metodologia-SIATOEF ou MOISModelo Operacional para Instituições de Saúde consiste em arquitetura sistêmica com modelagens das leis-de-formação dos processos dos protocolos técnico-operacionais de ações integrais de saúde(AIS) conforme os perfis epidemiológicos das populações pediátrica, gestante, adulta de terceira idade. Com o MOIS têm-se as métricas de eficiência e eficácia técnico-operacionais de AIS decodificadas nos seus termos econômicos ou Custos por Processos(indicador de eficiência econômica). A partir daí tem-se as Receitas-AIS com seus Preços de Venda embasados em Custos por Processos. Por isso, são indicadores de eficácia econômica.
3.Em outras palavras, com o MOIS os âmbitos de Administração de gestões e governança do Setor de Saúde podem contar com as Conformidades-AIS ou Navegador Orçamentário por Processos-AIS monitoráveis e mantidos atualizados -com transparência moderna- que, por sua vez, sumaria os
>Diagnósticos em t0, >Prognósticos-AISBenchmark em tN e Tratamentos de t1 a tN-1Benchmarkings – como ferramentas básicas para que os âmbitos de Administração de gestões e governança do Setor de Saúde façam o dever de casa – com domínio do Valor Agregado/Procedimento-AIS das referências e contrareferências.
4.Por isso, a partir dos Bancos de Dados da Metodologia-SIATOEF ou MOIS disponibilizei os livros-texto:
a.”Saúde Merecida, Devida e Recebida no Brasil com suas Métricas Inferidas e Determinantes”; b.”Saúde da Saúde do Brasil com Suas Verdades Convenientes nas Ofertas e Demandas” e
c.”Saúde da Saúde do Município de São Paulo Comparada com a do Estado de São Paulo e Brasil nas Ofertas e Demandas”(sendo finalizado).
5.No entanto, a divulgação desses livros-textos é fortemente afetada pelos critérios atuais – porque contemplam zonas de confortos que evidenciam pouco interesse nos estudos de novas metodologias que, por sua vez, são básicas para implementar a Administração da Saúde. Lembrando que com o advento da ONU tem-se a máxima: “Administrar saúde é uma boa forma de promover o desenvolvimento”. Que, ao que tudo indica, continua por vir…
Parabéns pela tomada de posição.
Recentemente a ABEC se posicionou contra a manobra de “internacionalização” que a CAPES pretende com a justificativa de “qualificar” as revistas brasileiras. A internacionalização pretendida e no que está exposto na Carta de São Paulo da ABRASCO é um manifesto contra a perda de identidade. Hoje não há mais local de publicação, nem temas locais, há a intenção de massificação e hegemonização da informação contida nas revistas.
A iniciativa do Fórum de Editores das Revistas de Saúde Coletiva da elaboração da Carta de São Paulo é muito bem-vinda. Inegavelmente, publicação de artigos em inglês, constitui decisão restrita não suficiente para internacionalização de periódico científico da área das humanidades. Temos trabalhado com outras categorias, como por exemplo, Editores Associados de outros países e Comitê Editorial Internacional. É um trabalho lento mas que cria cultura e interesse e temos recebido muitos artigos internacionais e, recentemente, proposição de uma editora russa,
Prezados Srs.
Parabenizo a Abrasco por, mais uma vez, ter adotado posição corajosa e coerente em relação a normas emanadas de cima e nem sempre compatíveis somente com princípios de qualidade. No caso particular, ressalto recente enquete encaminhada pelo CNPq a pesquisadores brasileiros, solicitando opinião sobre as normas internacionais para publicação em revistas “A”, especialmente em relação a exigências para referências e citações, que me pareceram absolutamente exageradas e até paranóicas. Talvez sejam pertinentes aos candidatos aos prêmios Nobel, o que certamente não é o caso da maioria de nós.
Cordialmente,
Moema M.Siqueira
Ola Pessoal,
Inicialmente, agradecer pelo embate discursivo em defesa de dos pesquisadores brasileiros, especialmente, os da linha Saúde Coletiva. Endosso plenamente os questionamentos levantados pelos editores-chefes, que de forma racional e com embasamentos evidentes, justificaram o porquê da necessidade de não nos calarmos frente a imposições de órgãos que por si só deveriam estabelecer um debate com seus protagonistas na tomada de decisões sobre novas regras para publicações.Como contribuição acrescento que se temos nas nossas publicações o principal instrumento de comunicação e divulgação das pesquisas em saúde coletiva, e considerando, sobre tudo, a vastidão de sub-áreas que contemplam o cerne das áreas de pesquisas. PRECISAMOS DE UM DEBATE MAIOR.
Estimados amigos:
Me complace adelantarles que las primeras opiniones de los directivos de la Asociación Argentina de Editores Biomédicos (AAEB) coinciden en alabar la “Carta de Sao Paulo” del Foro de Editores ABRASCO.
Nos satisface y entusiasma encontrar tantos puntos en común con los objetivos que animan nuestro trabajo.
La joven AAEB fue constituida al comenzar 2012. Para resumir la presentación debajo transcribo párrafos estratégicos de nuestra Declaración Fundacional.
Recibirán nuestra opinión institucional luego de la reunión del Consejo de Dirección a celebrarse el 10 de diciembre venidero.
Quedo a vuestra disposición. Les saluda afectuosamente
Rafael Bernal Castro
Presidente
AAEB
Presidente
Sociedad Iberoamericana
de Información Científica (SIIC)
Director editorial
Revista Salud(i)Ciencia
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El castellano y el portugués científico
Aunque resulte paradójico, la publicación de textos científicos en castellano en primer lugar y portugués, lo antes posible,significa un desafío para autores y editores de América Latina.
A la fatídica consigna “publicación o muerte”, las jerarquías de la ciencia argentina hoy le suman la condición de “publicación en inglés o muerte”.
Este requisito cultural -circunstancialmente alimentado por intereses hasta pocos años atrás predominantes- desestima a capacidad de los países periféricos y alienta la creencia en la escasa repercusión que obtienen las producciones científicas propias si quedan circunscriptas a las fronteras lingüísticas de Iberoamérica. Esta falsa creencia desestima recientes datos del crecimiento de la cultura regional en todas sus facetas, entre las cuales destacamos el avance del castellano como uno de los idiomas más hablados del planeta.
La demostración de esta realidad afecta la “adopción
destituyente” del inglés como catapulta a la trascendencia
universal.
Esta inducida obnubilación impide identificarnos con los
prójimos-próximos, incluyendo en ellos a los profesionales de habla portuguesa.
Buena parte de los ambientes científicos latinoamericanos
descuidan la actualización en los idiomas internos pese a la creciente cantidad de ediciones científicas que se producen en la región.
Al contar ambas lenguas superaríamos los 500 millones de
personas, residentes en las Tres Américas, Europa y el Resto del Mundo. Por lo tanto, el encuentro científico y cultural debe expresarse en la inclusión de artículos bilingües en las publicaciones especializadas, conjuntamente con sus versiones amplias o breves en inglés. Al mancomunar castellano y portugués multiplicaríamos autores y lectores de las publicaciones regionales.
La integración es posible más allá de las transacciones
comerciales predominantes. El encuentro de las ciencias debe manifestarse en la confluencia de sus protagonistas; las aparentes dificultades del sendero a transitar se verán facilitadas por los idiomas que nos enlazan en la consecución del objetivo a compartir.
Felicitaciones por los conceptos de la Carta de Sao Paulo.
CLACSO apoya el acceso abierto al conocimiento gestionado por la comunidad científica y académica, y, frente a los avances de propuestas comerciales, hemos publicado lo siguiente
http://www.clacso.org.ar/difusion/ley_apoyo_acceso_abierto_2014/apoyo_acceso_abierto.htm