Relevância dos periódicos de saúde coletiva em informar a pesquisa, a educação, os serviços de saúde e a cidadania

Foto: Peter Ilicciev/Fiocruz Imagens

Moisés Goldbaum, José Leopoldo Ferreira Antunes, Kenneth Rochel Camargo Júnior*

Em 2018, o Programa SciELO celebrou vinte anos de funcionamento contínuo e serviços prestados à publicação científica. O evento comemorativo, na última semana de setembro, contou com a participação de pesquisadores atuando no país e no exterior, editores de revistas científicas de todas as áreas de conhecimento e profissionais dos sistemas de indexação. Integrado à conferência internacional, houve oficinas de trabalho no dia 25 de setembro, reunindo editores de todos os países participantes da Rede SciELO: África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Espanha, México, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai e Venezuela.

O grupo de trabalho denominado “Relevância dos periódicos de saúde coletiva em informar a pesquisa, a educação, os serviços de saúde e a cidadania” contou com a participação de expressivo número de editores dos periódicos da área que são publicados no Brasil, incluindo não apenas revistas indexadas na Coleção SciELO, mas também representantes de revistas ainda não indexadas.

Esse texto visa apresentar os documentos técnicos elaborados previamente para compor a pauta temática da reunião e sintetizar a discussão ocorrida no evento. Esses documentos técnicos foram elaborados com o intuito de documentar a atual conjuntura vivenciada pelo meio editorial e contribuir para o desenvolvimento da área, preparando editores e pesquisadores com interesse em publicação científica para os principais desafios a serem enfrentados.

Pauta temática

O primeiro documento técnico1 traça um diagnóstico das dificuldades de financiamento que os periódicos de saúde coletiva enfrentam para se manter. O segundo2 focaliza as desigualdades de gênero na pesquisa e na produção científica no cenário internacional e nacional, propugnando iniciativas para o monitoramento e superação dessas desigualdades. O terceiro3 apresenta a proposta recentemente discutida pela CAPES para reformular a classificação Qualis das revistas de saúde coletiva. O quarto texto4 analisa características formais e de conteúdo dos artigos de maior impacto na área, em relação àqueles que não recebem citações.

O compartilhamento em acesso aberto das bases de dados utilizadas nos artigos publicados nas revistas de saúde coletiva tem sido cada vez mais solicitado aos autores. Esse é o tema do quinto documento5 dessa série, o qual discute as condições necessárias para viabilizar essa demanda.

A internacionalização dos periódicos de saúde coletiva é o sexto tópico6; discute-se como dinamizar a comunicação científica, incrementando a visibilidade internacional dos artigos publicados no Brasil. O sétimo documento7 aborda a contribuição dos periódicos de saúde coletiva para o planejamento e gestão dos serviços de saúde.

O debate travado após as apresentações acentuou e aprofundou os temas em pauta.

Posicionamentos em debate

No tocante ao financiamento dos periódicos da saúde coletiva, apontou-se que as dificuldades enfrentadas não são exclusivas e estendem-se aos demais campos disciplinares. Registrou-se o escasso volume de recursos financeiros aportados pelas agências de fomento; os montantes disponibilizados anualmente não são sequer suficientes para viabilizar a edição de um único fascículo das revistas. Em 2015, o CNPq destinou para apoio editorial apenas 0,06% de seu orçamento aplicado em fomento à pesquisa. Quanto às agências estaduais, registrou-se que a FAPESP concede apoio para custear publicações científicas das pesquisas que financia, quando a revista cobra para a edição, o que representa um apoio indireto aos periódicos. A plenária entendeu que não há políticas públicas de amplitude nacional para a sustentação dos programas editoriais. Assim, o grupo concluiu ser necessário propugnar diretrizes governamentais para prover o país de políticas públicas consistentes e duradouras na área de ciência, tecnologia e inovação, especificamente contemplando a divulgação do conhecimento produzido no país.

Assinalou-se, com ênfase, que a Coleção SciELO é uma instância central na sustentabilidade e visibilidade dos periódicos editados no país. A atuação do SciELO na edição, divulgação e indexação da produção científica nacional tem sido preponderante. Sublinhou-se a necessidade de garantir recursos para sua sustentação, evitando ou minimizando o elevado custo cobrado por Publishers do exterior. Lamentou-se a quase extinção do protagonismo da BIREME/OPAS nessa área, considerando que essa organização detém suficientes mecanismos e capacidade técnica para orientar e apoiar as veredas do desenvolvimento científico e tecnológico em saúde. Concluiu-se ser indispensável estimular o aumento criterioso da indexação dos periódicos, bem como manter e aprimorar continuamente essa base. Apontou-se, também, que novas propostas para o aprimoramento dos programas editoriais não devem contemplar aumento de custos, especialmente na atual conjuntura.

Quanto à análise dos critérios SciELO de indexação, assinalou-se que os periódicos de saúde coletiva, dentro de suas possibilidades e com ressalvas, vêm conseguindo atendê-los. Parte dos periódicos já aderiu ao fluxo contínuo de indexação, suprimindo a divisão em fascículos dos volumes anuais, medida que tem se mostrado proveitosa para os que já a adotaram. Praticamente todos editam seus artigos de modo bilíngue, em português e inglês, mas são obrigadas a processos contratuais que dependem de licitação, tornando-as vulneráveis a traduções de má qualidade. A exigência de constituir corpo editorial com pesquisadores atuando no exterior tem sido contemplada, apesar das dificuldades inerentes a esta ação. Apesar do sistema de submissão utilizar o idioma inglês, a busca de revisores sediados no exterior para a emissão de pareceres ad hoc também esbarra na dificuldade do idioma, pois a maioria dos originais é submetida em português e apenas os artigos aprovados são vertidos para o inglês. No tocante à publicação de artigos provenientes do exterior, depara-se com uma situação peculiar; pois muitos desses artigos são de má qualidade, e acabam sendo rejeitados em rito sumário pelos editores científicos. Nesse sentido, a plenária sugeriu suprimir esse item (publicação de artigos provenientes do exterior) como critério de avaliação dos periódicos.

A plenária deteve-se na discussão de dificuldades do processo editorial. A edição científica não dispõe de um sistema profissional. O trabalho é feito de modo voluntário por membros da comunidade científica que atuam, ora como autores, ora como revisores, ora como editores. Ainda que tenhamos conseguido, com muito empenho, corresponder ao trabalho exigido, essa condição não garante uma administração racional do processo editorial em longo prazo. Destacou-se a grande dificuldade de todos os periódicos em buscar revisores para todos os artigos submetidos. Para não poucos artigos submetidos, tem sido necessário indicar até mais de dez revisores até obter o suficiente para a tomada de decisão editorial. Em parte, isso é devido à sobrecarga vivenciada pelos pesquisadores, mas tem gerado transtornos importantes e atraso significativo na condução do processo editorial. A plenária manifestou ser compreensível, porém não justificável, que os mesmos profissionais que recusam repetidamente avaliar os manuscritos acabem aceitando fazê-lo para periódicos estrangeiros, especialmente aqueles de ponta. Para minimizar esta dificuldade, sugeriu-se procurar estratégias de valorização do trabalho efetuado pelos revisores, por exemplo, incluindo o registro dessa atividade na avaliação dos programas de pós-graduação efetuada pela CAPES. Lembra-se, ainda, que a avaliação dos periódicos depende fortemente do financiamento, o qual, como apontado, tem sido cronicamente insuficiente.

A proposição de diretrizes editoriais da ciência aberta, em especial a proposição de submeter os artigos via repositórios de “preprint”, foi considerada ponto importante, que merece ampla difusão, debate e cuidados na aplicação. Entendeu-se que a submissão via repositórios de preprint, ainda que imprima maior agilidade ao processo editorial, não pode ser a única porta de entrada das revistas, para não inviabilizar as formas tradicionais de submissão. Conquanto possam ficar permanentemente disponíveis nos repositórios de preprint, essa medida pode atenuar o procedimento editorial de rejeição em rito sumário empregado pelas revistas. A identificação nominal dos revisores e a abertura dos pareceres elaborados devem ser facultativas, dependendo da autorização de todos os envolvidos, tanto dos autores, como dos revisores. Discutiu-se a possibilidade de os artigos disponíveis nos repositórios de preprint serem citados antes mesmo de publicados, o que poderia repercutir nos índices tradicionais de impacto das publicações. Foram propostos experimentos editoriais inovadores, como o estabelecimento de linhas temáticas de submissão envolvendo um conjunto de revistas, para incentivar a comunidade científica a submeter trabalhos nessa modalidade.

Ainda com relação à pauta de tópicos sobre ciência aberta, várias questões não foram resolvidas e não há consenso quanto a sua adoção. Destacou-se que a submissão em acesso aberto das bases de dados utilizadas na elaboração dos artigos publicados deve ser acompanhada pela apresentação das rotinas estatísticas a serem empregadas na análise, o dicionário das variáveis utilizadas, o protocolo de pesquisa e, em caso de inquéritos, o questionário aplicado. Em relação às pesquisas utilizando dados qualitativos, sublinhou-se a complexidade da coleta de dados, a qual não necessariamente corresponde aos padrões utilizados nas pesquisas, por exemplo, de natureza epidemiológica. Sugeriu-se a disponibilização de dados minimamente necessários para conferir a análise efetuada. Restou inconclusa a questão de como a publicação da base de dados poderá ser referenciada bibliograficamente. Da perspectiva da ética de pesquisa em seres humanos, recomendou-se consultar a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) quanto à necessidade de incluir no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) a informação de que os dados levantados poderão ser utilizados para outras finalidades por parte de outros pesquisadores. Chamou-se a atenção de que a exposição de dados não pode provocar danos, especialmente, de ordem social, para os participantes da pesquisa. Dentre as indagações, restaram sem resposta quais repositórios deverão ser utilizados e que instituições deverão mantê-los. Também ficou irresoluta a garantia do uso adequado dos dados, haja vista a possibilidade de instituições mais bem estruturadas tornarem viável a reunião de dados de diferentes origens, por meio de técnicas de big data e machine learning.

Por fim, mas não menos importante, a reunião plenária discutiu a proposição de mudanças no critério de classificação dos periódicos, conforme consignado do documento técnico que registrou a proposta discutida no início de 2018 pelo Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES) da CAPES. Foi consensual o estranhamento da proposição de retirar ou diminuir o protagonismo do SciELO como base de indexação para classificação dos periódicos na composição do Webqualis. O grupo considerou que o significado maior desta proposta é desvalorizar e desqualificar a Coleção SciELO e todos seus periódicos. Criada para dar maior visibilidade à produção científica regional, a Coleção SciELO vem atendendo às especificidades de nossa realidade latino-americana, deslocando o foco comercial das bases internacionais para o interesse acadêmico das revistas científicas editadas no país. É ineludível que o SciELO tem favorecido a internacionalização da produção científica do Brasil, perspectiva tão perseguida e desejada pela comunidade científica. Considerou-se que essa iniciativa, na prática, esmaece a perspectiva de internacionalizar a produção científica do país. A reunião plenária reconheceu a importância da avaliação CAPES e seu enorme impacto na indução do desenvolvimento do ensino e da pesquisa no Brasil; mas reiterou a necessidade de que a avaliação não induza a desvalorização dos programas editoriais no país. Houve consenso de que a proposta discutida no CTC-ES da CAPES terá ampla repercussão negativa para as revistas científicas editadas no Brasil. Com base nos dados apresentados no documento técnico que consta desse dossiê, verifica-se que ampla maioria (77%) dos artigos científicos informados pelos Programas de Pós-Graduação em saúde coletiva no último quadriênio de avaliação da CAPES foi publicada em revistas no Brasil. Acredita-se que a desqualificação das revistas como veículo de divulgação científica seja igualmente prejudicial para os Programas de Pós-Graduação. Considerando estes argumentos, o grupo decidiu expressar rejeição à proposta apresentada.

REFERÊNCIAS

1 Almeida MF, Goldbaum M. Sustentabilidade e financiamento dos periódicos de saúde coletiva. SciELO 20 Years Repository. 2018; 101:69. Disponível em: http://repository.scielo20.org/documents/article/view/101/69 [ Links ]

2 Garcia LP. A participação feminina no meio editorial da saúde coletiva. SciELO 20 Years Repository. 2018; 109:75. Disponível em: http://repository.scielo20.org/documents/article/view/109/75 [ Links ]

3 Barata RB. Os periódicos de Saúde Coletiva e o Webqualis: situação atual e a nova avaliação. SciELO 20 Years Repository. 2018; 91:61. Disponível em: http://repository.scielo20.org/documents/article/view/91/61 [ Links ]

4 Cuenca AMB, Barbosa MMAL, França-Jr I. Artigos mais citados e os não citados das revistas em saúde pública: o que os editores têm a ver com isso? SciELO 20 Years Repository. 2018; 99:71. Disponível em: http://repository.scielo20.org/documents/article/view/99/71 [ Links ]

5 Barros AJD, Horta BL. Compartilhamento de dados de pesquisa: para ser ético, equitativo e responsável há um grande investimento a fazer. SciELO 20 Years Repository. 2018; 95:65. Disponível em: http://repository.scielo20.org/documents/article/view/95/65 [ Links ]

6 Antunes JLF, Barros AJD, Minayo MCS. Caminhos da internacionalização dos periódicos de saúde coletiva. SciELO 20 Years Repository. 2018; 97:67. Disponível em: http://repository.scielo20.org/documents/article/view/97/67 [ Links ]

7 Souza LEPF. Contribuição dos periódicos de saúde coletiva para o planejamento e a gestão dos serviços de saúde. SciELO 20 Years Repository. 2018; 121:87. Disponível em: http://repository.scielo20.org/documents/article/view/121/87 [ Links ]

Artigo publicado originalmente na revista Ciência & Saúde Coletiva vol. 26 n.4, de abril de 2021.

* Moisés Goldbaum é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e editor da Revista Brasileira de Epidemiologia.

*José Leopoldo Ferreira Antunes é professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, editor da Revista de Saúde Pública e da coordenação do Fórum de Editores de Saúde Coletiva da Abrasco

*Kenneth Rochel Camargo Júnior é professor do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A contribuição da RBE na disseminação do conhecimento: avanço nas métricas e respostas à epidemia

Editada pela Abrasco, a Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE), está em contínuo aperfeiçoamento editorial. Reduzir o tempo de análise dos artigos, manter a qualidade da revisão, ampliar o acesso aos artigos e avançar nas métricas estão entre os desafios. Em tempos acelerados de Covid-19, o trabalho dos editores aumenta, porém, a contribuição para a disseminação do conhecimento e do avanço da ciência e a busca das respostas para entender melhor a nova doença motivam a comunidade de epidemiologia.

“É com satisfação que a gente vê que a comunidade está tentando achar respostas e entender melhor a complexidade que é essa epidemia”, ressaltou Márcia Furquim, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP USP) e editora da RBE. Desde o início da pandemia, a revista está trabalhando com o método fast-tracking nos artigos sobre Covid-19, acelerando o processo de revisão por pares. A editora explicou que cada artigo passa pelos cinco editores científicos e depois pode seguir, ou não, para um editor associado específico da área. Artigos também chegam via servidor de preprints da SciELO, que também dá mais rapidez ao processo de divulgação. Os processos são feitos de maneira online. Até julho, a RBE recebeu 628 submissões, sendo 90 sobre Covid-19.

Antonio Fernando Boing, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), membro da diretoria da Abrasco e também editor da RBE, falou sobre a diminuição do tempo nas análises dos artigos, desde antes da pandemia. Em 2019, o tempo médio para decisão foi de onze dias para recusas imediatas e pouco mais de dois meses para aqueles que foram aceitos após revisão por pares. “Nós entendemos que um processo editorial ágil, com a consequente disseminação do conhecimento no momento em que é produzido, é muito importante para a ciência. Da mesma forma, é respeitoso com os autores. Imprimimos uma análise editorial com muito rigor e qualidade, e disso temos muito orgulho” disse o professor.

A publicação tem registrado avanços nas métricas nas diferentes bases de indexação, com crescimento nos índices no CiteScore, no SJR e no recém publicado ranking do Google Scholar. “Acompanhando as nossas outras colegas revistas de saúde coletiva, crescemos em comparação ao ano passado e estamos entre as revistas com maiores indicadores do Brasil no ranking”, afirmou Boing. O próximo passo nessa seara é o ingresso na lista de títulos da Web of Science,  já solicitado e em análise.  

O professor também destacou o acesso aos artigos da revista. “Em 2019, obtivemos o maior número absoluto de consultas aos artigos da RBE na história, com mais de 1,3 milhão de acessos aos resumos e artigos em PDF e HTML, o que representa um aumento de 18% em comparação a 2017”.

A parceria com a Comunicação da Abrasco foi ampliada e que, assim, a visibilidade da revista aumenta. A revista faz parte da Agência Bori, iniciativa que dissemina o conhecimento científico à imprensa de todo o país. “O mais importante para nós é continuar contribuindo com a disseminação dos estudos sobre a situação de saúde da população, sobre reflexões teóricas do campo e avanços metodológicos da epidemiologia”, concluiu Boing.

Márcia Furquim reiterou sobre a produção da comunidade científica brasileira dizendo que a sensação “é extremamente positiva”, e que “mostra que a gente está tentando, a gente está conseguindo. E é essa resposta social que a revista tem que dar”, finalizou a editora sênior.

Revistas de Saúde Coletiva mantêm destaque no ranking Google Scholar

As revistas de Saúde Coletiva estão na ponta do ranking 2020 do Google Scholar, divulgado neste mês de julho. Mais uma vez, a revista Ciência & Saúde Coletiva, editada pela Abrasco, lidera o ranking, seguida por Revista de Saúde Pública, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) e Cadernos de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz). A revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, do Ministério da Saúde, ocupa a quarta posição e, entre as 11 primeiras ainda estão a Revista Brasileira de Epidemiologia, também editada pela Abrasco, na sexta posição, e a Interface – Comunicação, Saúde, Educação, da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) de Botucatu, em sétimo. Saúde em Debate, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), e Saúde e Sociedade, também da FSP-USP, respectivamente em décimo e em décimo-primeiro lugares, completam a lista das 11 primeiras. O ranking inclui todas as revistas científicas publicadas em português no mundo.

Leila Posenato Garcia, editora da Epidemiologia e Serviços de Saúde, fez considerações sobre o protagonismo das revistas da saúde coletiva no ranking do Google Scholar. “O índice h5, que define esse ranking, tem aumentado a cada ano nas revistas da área. Esse crescimento reflete o aumento das citações recebidas, resultante do aumento da visibilidade das revistas, que por sua vez, está atrelado à qualidade e ao volume de artigos que a área publica”, ressaltou.

O professor Antonio Fernando Boing, editor da Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE), considera importante o crescimento da RBE nas métricas do Google, acompanhando as outras publicações de saúde coletiva entre as que possuem melhores indicadores no Brasil no ranking. “O mais importante, para nós, é continuar contribuindo com a disseminação dos estudos sobre a situação de saúde da população, sobre reflexões teóricas do campo e avanços metodológicos da epidemiologia”, considerou.

Fast-tracking e pandemia

A boa colocação das revistas no ranking valoriza as publicações e o trabalho de seus editores que, em tempos da pandemia do novo coronavírus, tiveram as rotinas alteradas. As revistas científicas adotaram o método de fast-tracking, acelerando o ciclo de avaliação por pares dos artigos. Assim, os manuscritos podem ser publicados mais rapidamente, facilitando as trocas entre a comunidade científica, de questionamentos e de resultados produzidos. A disseminação do conhecimento científico também está acelerada com os repositórios de preprint. E os desafios com o tempo abreviado são muitos, para garantir a manutenção dos padrões e a integridade das pesquisas.

As publicações do Fórum de Editores de Saúde Coletiva da Abrasco também estão utilizando o método de fast-tracking desde o início da pandemia e o tema também já foi discutido em painel da Ágora Abrasco. Nesta atividade, Márcia Furquim, editora da Revista Brasileira de Epidemiologia, apontou aumento na publicação de artigos e destacou que a saúde coletiva “está viva, procurando entender a epidemia e contribuir para sua contenção”.

Leila Posenato Garcia, recém-eleita para o conselho consultivo do portal SciELO Brasil na área de ciências da saúde, contou um pouco sobre como estão os processos na revista. “A RESS lançou uma chamada de artigos sobre COVID-19 que foi muito bem sucedida. Todos os artigos submetidos à chamada são processados em fast-tracking. De março a junho, foram submetidos 103 artigos. Aproximadamente 15% destes seguiram no processo editorial após a triagem e tiveram a decisão sobre a publicação dentro de uma a três semanas”, explicou Leila.

De acordo com a editora, é preciso manter os padrões em tempos de processos mais ágeis. “Além do processo editorial acelerado, a RESS passou a adotar a publicação antecipada dos artigos aprovados no servidor SciELO Preprints, o que torna ainda mais ágil a sua divulgação. Não obstante a agilidade, os padrões de integridade na pesquisa e na publicação científica são rigorosamente observados, o que envolve não apenas a qualidade das pesquisas e dos relatos, mas também a checagem de plágio e a verificação dos requisitos éticos em pesquisas que envolvem seres humanos”, explicou a editora.

Para Leila Posenato Garcia, “internacionalmente, a integridade na pesquisa e na publicação ganhou visibilidade, inclusive fora do meio editorial científico”, disse, citando o exemplo da retratação de artigos publicados em periódicos relevantes, como o estudo multicêntrico sobre a cloroquina no The Lancet. “A pressa tem um custo que pode impactar na qualidade da publicação e esse equilíbrio entre tempo e qualidade deve ser buscado constantemente pelas revistas”, afirmou.

No painel da Ágora Abrasco, que aconteceu em junho, Claudia Coeli, editora da Cadernos de Saúde Pública, ressaltou a importância de trabalhar em rede e em cooperação e pontuou que a população está assustada e ávida por informações e que os cientistas precisaram se adaptar às mudanças e às acelerações. “O cientista está acostumado com tempos mais lentos”, acrescentou, concluindo que “É necessário não se afastar dos processos de boas práticas editoriais”.

Das 11 primeiras publicações do ranking, oito são da Saúde Coletiva, com os índices h5. Veja o ranking completo:

1.            Ciência & Saúde Coletiva    49        

2.            Revista de Saúde Pública      41      

3.            Cadernos de Saúde Pública      40 

4.            Epidemiologia e Serviços de Saúde        36

5.            Revista Brasileira de Enfermagem          33

6.            Revista Brasileira de Epidemiologia        32

7.            Interface – Comunicação, Saúde, Educação       30

8.            Escola Anna Nery           29

9.            Estudos Avançados       28

10.          Saúde em Debate          28

11.          Saúde e Sociedade        27

Ciência aberta e escassez de recursos: desafios para os novos representantes dos editores no Comitê Consultivo SciELO Brasil

Foto: Peter Illiciev/Fiocruz Imagens

O Comitê Consultivo SciELO Brasil tem novos representantes na área de Ciências da Saúde, e eles são da Saúde Coletiva. Moisés Goldbaum, editor da Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE), periódico editado pela Abrasco, foi reeleito à vaga de representante titular. Junto com ele, Leila Posenato Garcia, editora da Epidemiologia e Serviços de Saúde (RESS), assume como representante suplente. 

Responsável pela formulação e aplicação das políticas e critérios de avaliação de periódicos científicos para inclusão e permanência na coleção, o Comitê Consultivo da Coleção SciELO Brasil é formado por editores-chefes de periódicos das áreas. A eleição entre os editores ocorre a cada dois anos.

Para Leila Posenato Garcia, o aprimoramento dos periódicos da coleção é uma importante ação para a área da Saúde. “O Programa SciELO tem critérios rigorosos para a entrada e permanência das revistas, que são periodicamente revisadas. Isso faz com que as equipes editoriais devam trabalhar constantemente para atender os critérios da coleção”.

A editora da Epidemiologia e Serviços de Saúde disse que há mais exigências hoje sobre procedimentos relativos à ciência aberta, com destaque para políticas de incentivo à abertura de dados de pesquisa.

“A equipe do SciELO trabalha muito para dar suporte às revistas indexadas, o que inclui a manutenção do portal no qual as revistas são acessadas, a atribuição do DOI, a produção de indicadores de citação, além de iniciativas para a divulgação das revistas, a exemplo da parceria com a agência Bori e o Blog SciELO”, ressaltou.

A falta de investimentos em Ciência e Tecnologia no país faz com que o financiamento seja um dos maiores desafios das publicações científicas, incluindo as da área da Saúde Coletiva. O Programa SciELO é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o suporte às revistas é ofertado sem qualquer custo. Leila Posenato Garcia pontuou que a escassez de recursos compromete a manutenção e o desenvolvimento dos periódicos científicos.

“Algumas revistas, sem alternativas, têm passado a cobrar taxas dos autores para a publicação de artigos. Nesse contexto, creio que um grande desafio é permitir que as revistas da Saúde Coletiva, tenham garantidos sua manutenção e aprimoramento, ao mesmo tempo em que a publicação de artigos seja acessível aos autores”.

Para a editora, outro desafio será continuar a fortalecer o conjunto de revistas da Saúde Coletiva, de modo que “mais revistas da área possam alcançar os critérios para indexação na Coleção SciELO Brasil”, concluiu.

Produção de conhecimento durante a pandemia: Márcia Furquim, editora da RBE, foi entrevistada pelo Nexo

Márcia Furquim, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) e editora científica da Revista Brasileira de Epidemiologia da Abrasco, falou ao Nexo sobre as publicações científicas em tempos de pandemia. Aceleração dos processos, erros, retratações, mudanças, politização do uso de medicamentos. “É o cenário que nós estamos vivendo. Isso tudo é um avanço da produção de conhecimento, só que, de vez em quando, precisamos tomar cuidado em como usá-lo”, disse a professora.

Os desafios das publicações científicas foram tema de painel na Ágora Abrasco, no começo de junho. A atividade “Publicação científica nos tempos da pandemia da Covid-19”  contou com as presenças das editoras científicas Leila Posenato Garcia, da revista Epidemiologia e Serviços de Saúde e Cláudia Medina Coeli, da Cadernos de Saúde Pública e também de Abel Packer, diretor científico do portal Scielo/Fapesp. O painel, coordenado por Márcia Furquim, abordou as mudanças nas publicações, com os preprints e a adoção de fast tracking em tempos de pandemia. Os periódicos do Fórum de Editores de Saúde Coletiva da Abrasco estão utilizando o método que acelera o ciclo de avaliação por pares.

Em tempos de pandemia, a busca por tratamentos eficazes e vacinas faz com que a produção científica aumente em um curto espaço de tempo. Os processos são acelerados e o desafio é a manutenção da integridade da pesquisa, dos rigores metodológicos e dos padrões da boa ciência. “O cientista está acostumado com tempos mais lentos”, pontuou Cláudia Medina Coeli no painel da Ágora Abrasco.

Assim como no painel, a matéria no Nexo contou um pouco sobre os casos dos estudos envolvendo os medicamentos ibuprofeno, cloroquina e hidroxicloroquina. Em março, a Organização Mundial da Saúde recomendou a suspensão do uso do ibuprofeno no tratamento de pacientes com a Covid-19, mas voltou atrás por conta de inconsistências nas pesquisas. Em maio, a revista britânica Lancet, uma das mais prestigiadas do mundo, publicou estudo com elevado número de participantes ligando o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina ao aumento no número de mortes de pacientes hospitalizados. Porém, as informações foram questionadas e estão sendo investigadas. Três dos quatro autores publicaram uma retratação na revista. O quarto autor é dono da empresa que forneceu os dados dos pacientes.

Márcia Furquim pontuou que os pesquisadores estão tentando entender a epidemia e contribuir para sua contenção e que, na área da saúde, o “cuidado tem que ser redobrado, porque isso vai ter um impacto em como vai tratar os pacientes”, disse ao Nexo. “Claro que, no momento que a gente está vivendo, numa pandemia, todo mundo vai tentar. Faz parte do ser humano procurar uma coisa que possa minimizar o efeito do vírus. As pessoas procuram tentar entender o que está acontecendo”, concluiu.

Leia na íntegra a matéria do Nexo e a cobertura do painel sobre publicações científicas da Ágora Abrasco.

Desafios para publicações científicas em tempos da pandemia

O painel “Publicação científica nos tempos da pandemia da Covid-19”, da Ágora Abrasco, aconteceu no dia 4 de junho, com a coordenação de Márcia Furquim, editora científica da Revista Brasileira de Epidemiologia (RBE) e professora da Faculdade de Saúde Pública na Universidade de São Paulo (FSP/USP). A atividade contou com as participações de Abel Packer, diretor científico do portal Scielo/Fapesp, Cláudia Medina Coeli, editora da Cadernos de Saúde Pública (CSP) e Leila Posenato Garcia, editora da revista Epidemiologia e Serviços de Saúde. Os participantes falaram sobre a produção e a publicação da ‘boa ciência’ em tempos de pandemia, quando tudo está acelerado.

A editora da RBE iniciou a atividade ressaltando a importância da adoção do fast-tracking por revistas científicas do mundo todo, por conta da pandemia do novo coronavírus. As publicações do Fórum de Editores de Saúde Coletiva da Abrasco também estão utilizando o método fast-tracking, que acelera o ciclo de avaliação por pares, fazendo com que os manuscritos sejam publicados mais rapidamente pelas revistas e facilitando a troca de questionamentos e resultados produzidos entre a comunidade científica. A professora destacou que a pandemia também é desafio para a área das publicações científicas, e ressaltou a nova forma de disseminação das publicações científicas, que são os repositórios de preprint, e a forma tradicional, de revisão por pares. Os preprints também aceleram a disseminação dos manuscritos, antes ou em paralelo à avaliação por pares e validação por periódicos científicos. “(Neste período), conseguimos publicar 42 artigos, o que mostra que a área está viva, está procurando entender a epidemia e contribuir para a sua contenção”, afirmou Márcia Furquim.

A professora da FSP/USP citou o caso dos estudos envolvendo os medicamentos hidroxicloroquina e cloroquina no uso terapêutico para o tratamento de pacientes com Covid-19. No Brasil, a utilização dos medicamentos é indicada pelo Ministério da Saúde para o tratamento de casos leves, mesmo sem comprovação científica da eficácia dos fármacos. A controvérsia dos estudos e a politização do uso dos medicamentos colocam em discussão a questão da agilidade das publicações, que servem como bases de evidências para tratamento e enfrentamento da epidemia.

Abel Packer falou sobre o conceito de ciência em aberta, do conhecimento científico como bem público, já que o acesso ao conhecimento é fundamental. “O acesso ao conhecimento científico é um determinante estrutural do desenvolvimento sustentável, especialmente na Saúde”, disse. Packer apresentou as linhas de ação e estratégias do Programa Scielo. Para comunicações científicas relacionadas à Covid-19, em abril, o Scielo disponibilizou em versão piloto o servidor Scielo Preprints.

Packer mostrou a base de dados LitCovid, que é uma base com curadoria promovida pela National Library of Medicine, classificada em grandes temas, onde é possível ver o número de artigos, os periódicos e países onde estão sendo produzidos os estudos. Baseado em um título de um artigo publicado na Nature, sobre se a pandemia alterará permanentemente a publicação científica, Packer pontuou que “Essa mudança de abertura agora, se é importante na época de uma pandemia, deve ser importante sempre”.

Packer falou sobre os desafios do atual momento e mostrou dados do portal Scielo Brasil. Sobre os preprints e acesso à ciência aberta, o diretor do portal Scielo destacou as mudanças, já que, além de validar o artigo da pesquisa, os periódicos passam, progressivamente, a validar se estão ‘de acordo’ com a ciência aberta. “Sugerimos que os periódicos a partir de 2020, 2021, atualizem a política editorial, aceitando o preprint. Vamos trabalhar com citação e referenciamento de dados. Uma mesma pesquisa pode produzir três objetos de publicação: dados, artigos sobre dados e artigos analíticos”, disse.

Cláudia Medina Coeli citou o curto intervalo de tempo de acontecimentos importantes nos tempos atuais, citando o caso do medicamento ibuprofeno. Logo no início da pandemia, houve recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a partir de uma carta publicada em um periódico importante, que o fármaco não fosse usado em pacientes com Covid-19. Depois, com a reação de pesquisadores e a falta de estudos e comprovação científica dos efeitos colaterais da medicação, a OMS voltou atrás.

A editora da Cadernos de Saúde Pública falou sobre a importância da proteção da integridade da pesquisa, para a manutenção do rigor metodológico e dos padrões da boa ciência. Cláudia Coeli falou ainda das transgressões em pesquisas, como más condutas, plágio, e práticas prejudiciais que comprometem os estudos. A editora da Cadernos de Saúde Pública destacou a cooperação e a colaboração como fundamentais em tempos da pandemia da Covid-19. “Mais importante que números é formar rede e trabalhar em cooperação”, disse.

Ainda sobre a rapidez em tempos de pandemia, Cláudia Coeli destacou as muitas informações disponíveis, muitas delas falsas e que há produção de muito ruído, citando as redes sociais na internet, onde não é possível a verificação das informações. A população está assustada e ávida por informações e os cientistas têm que se adaptar às mudanças e acelerações. “O cientista está acostumado com tempos mais lentos”, pontuou.

Na pandemia, a aceleração dos processos propicia aumento no número de artigos publicados e também de retratações. A editora da CSP destacou a importância dos editores assistentes durante a adoção de fast-tracking e que é preciso buscar alternativas metodológicas que permitam alcançar bons resultados em menor tempo. “É necessário não se afastar dos processos de boas práticas editoriais”, concluiu.

Leila Posenato Garcia, editora da Epidemiologia e Serviços de Saúde traçou um perfil histórico das publicações científicas, citando cenários de outras epidemias e a situação atual, com aumento no ritmo da publicação de artigos. Leila destacou a participação de pesquisadores em entrevistas na imprensa, esclarecendo dúvidas da população; o trabalho realizado pelas revistas da saúde coletiva; a iniciativa dos editores para colocar artigos sobre a Covid-19 em acesso aberto; e os esforços de sociedades científicas, entre elas a Abrasco, com a produção de posicionamentos oficiais e materiais jornalísticos, contribuindo para a divulgação da ciência. “Na pandemia, houve aproximação da ciência com o público, com a sociedade”, afirmou.

Outro ponto destacado por Leila Garcia foi o acirramento das desigualdades nas pesquisas em tempos de pandemia. Diante dos dados de publicação de manuscritos por gênero, a pesquisadora citou o impacto na produção acadêmica das mulheres. “Nos faz supor que as mulheres não conseguem desenvolver pesquisas tanto quanto os homens durante a pandemia”, ressaltou.

A editora da Epidemiologia e Serviços de Saúde falou sobre o investimento em divulgação científica. “Esse momento deveria servir para que se tivesse maior valorização da ciência e da publicação científica. Não sei se virá, mas o cenário nos mostra que é necessária”, disse.

Cláudia Medina Coeli comentou a questão da comunicação com a população, e afirmou ser de fundamental importância o letramento em ciência. “Nós, cientistas, estamos abertos a rever as nossas posições e isso não é tão natural para outros”, concluiu.

Veja o vídeo da Ágora Abrasco na íntegra.