O sertão é do tamanho do mundo, o sertão é dentro da gente: inspiração visual do 8º Simbravisa

O sertão é sem lugar. O sertão é do tamanho do mundo. O sertão é dentro da gente. O sertão é uma espera enorme. E agora, o sertão é sopro de inspiração para a identidade visual do 8º Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária, que acontecerá em 2019, na capital mineira Belo Horizonte. A partir da obra de Guimarães Rosa o evento, organizado pelo GT Vigilância Sanitária da Abrasco, ganha cores e traços artísticos – um mapa para a sensibilidade que contrapõe a aridez da área.

A ilustração em giz pastel – com a paleta de cores do cerrado e  tendo como fonte principal uma inspiração na xilogravura da Literatura de Cordel – é da artista plástica Mariana Zani, acionada pela Comissão Cultural do simpósio para produzir a máscara estética do  evento. O desenho retrata geograficamente três cidadezinhas mineiras: Cordisburgo, Morro da Garça e Três Marias – além do Rio São Francisco e Rio das Velhas – paisagens vivas na história e nas estórias de Guimarães. O mapa, entretanto, não é cartográfico: “Não é feito com objetivo de se localizar. É sensorial e emotivo, impulsionado pelas cores e pelos volumes. Sua perspectiva também sugere uma visão de dentro – e não de cima, como normalmente vemos um mapa – é como se fizéssemos parte daquilo”, explica Mariana.

“Fazer parte daquilo” é exatamente o desafio da Comissão Cultural do Simbravisa, coordenada por Daniella Araújo: “A vigilância sanitária possui uma dureza que, a meu ver, deve ser amenizada pelas vias da arte, da cultura , da sensibilidade. Sempre que possível apropriando-se da cultura local ou global. Nossa Comissão Cultural tem como responsabilidade tratar cultura de forma não dissociada das ações de saúde. Afinal, as próprias ações da VISA refletem a cultura das localidades e devem compreendê-las para que a proteção à saúde, a prevenção dos riscos tenha maior aderência da população. Tomamos isso como nossa travessia, nosso desafio”, afirma.

O processo de criação deu-se através de conversas da Comissão Cultural com a artista: era preciso representar o sertão roseano com o amor de Rosa pela geografia. Por isso as três cidades escolhidas, “onde a literatura dele está viva na voz e nos atos da população” – conta Daniella, grande admiradora do escritor. “Acredito especialmente que a literatura de Guimarães Rosa, abre nossos olhos e ouvidos, expõe nosso coração, ameniza a incerteza, pois é dirigida à alma de cada um”.

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Já Mariana, formada pela Escola Guignard (UEMG), releu “Manuelzão e Miguilin” para adentrar no mundo literário e capturar as subjetividades expressas no desenho. A artista envolveu-se também com a proposta do evento, seu primeiro projeto de identidade visual: “É um momento que precisamos lutar pelos nossos direitos básicos – e aqui destaco não só a saúde pública e o nosso SUS – mas também a arte, a liberdade de expressão e as diferentes formas de vida. Sinto-me honrada em contribuir para um evento tão importante e necessário. Acredito ser potente e enriquecedor encontros como este, entre áreas que caminham por elaborações tão distintas, mas que no fundo fazem parte de um mesmo todo que é a vida humana em sua completude”.

Além da proposta visual, o Simbravisa 2019 também trará outras marcas do autor, como o tema central do simpósio “Democracia e Saúde: caminhos e descaminhos da vigilância Sanitária” e a relação de trechos da obra à programação científica do evento. Da mesma forma, há ideia de uma instalação com elementos que representem a essência da localidade-tema: alimentos, ervas medicinais, utensílios, e trabalhadores tradicionais, como as bordadeiras, os contadores de casos e os violeiros. “A perspectiva é de recriar uma atmosfera da região e que seja também metáfora de outros sertões, de outros sentidos. A ideia é tornar o Simbravisa mineiro um evento que nos faça  socializar a poesia do homenageado com o público. Que nos faça sonhar e depois do sonho, agir com mais coragem no mundo”, conclui Daniella.

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