
Com muito pesar, a Abrasco lamenta o falecimento do psiquiatra italiano Franco Rotelli, ocorrido nesta quinta-feira, 16 março, aos 80 anos. Nascido na província de Cremona, Rotelli foi um dos médicos psiquiatras mais aguerridos e fundamentais na construção da psiquiatria democrática italiana, inspiração importante para a Reforma Psiquiátrica Brasileira.
Em 1971, chegou a Trieste no departamento dirigido por Franco Basaglia; em 1979 substituiu Basaglia na direção do hospital psiquiátrico, cargo que ocupou ao longo de 15 anos. Sob sua direção deu-se o novo rumo dos serviços psiquiátricos com a superação dos manicômios, a partir da Lei Basaglia. De 1998 a 2001 e de 2004 a 2010 foi secretário da saúde de Trieste. Rotelli constituiu-se como um militante revolucionário e visionário da reforma psiquiátrica italiana, ajudando a construir em Trieste um território fértil para (re)invenção do cuidado em saúde mental no território, de portas abertas com e para a vida das pessoas.
O pensamento de Rotelli foi pautado na ideia de que a “contradição fundamental de nosso tempo é aquela entre instituições fechadas e instituições abertas, e que trabalhar essa dialética deve ser um compromisso prioritário em uma ciência política, ética, em sociedade organizações e nas relações interpessoais”. Rotelli marcava sempre no seu discurso a necessidade de tensionar as relações de poder nas instituições como forma de transformar as práticas e vivenciar organicamente a desinstitucionalização. Esteve acompanhando Basaglia em visita ao Brasil , em 1979, e em 1992 voltou a convite da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, abrindo o seminário alusivo à aprovação da primeira lei estadual de reforma psiquiátrica no Brasil.
Rotelli deixa um consistente legado acadêmico, político, social, de resistência e humano para o campo da saúde mental.
Franco Rotelli presente!